Seguro hiperpersonalizado – do preço à cobertura
A personalização é uma tendência crescente na nossa sociedade. Para ir ao encontro da expetativa do cliente atual, é imprescindível ter a capacidade de ajustar a oferta à realidade de cada cliente, com a hiperpersonalização da tarifa de acordo com os hábitos do cliente. Os consumidores já não assistem com tanta frequência à televisão tradicional, mas recorrem ao Netflix ou ao YouTube. Estas plataformas permitem que vejam o que querem e, mais importante, quando e onde quiserem. E, para além disso, os próprios consumidores propõem conteúdos que acreditam (e sabem) que irão gostar, com base nas suas preferências pessoais.
Isto também acontece no comércio eletrónico. A Amazon não só oferece a conveniência de receber no dia seguinte aquilo que comprar, como o seu ponto forte está na capacidade de recomendar produtos, com base no nosso histórico de pesquisa e compra.
Estes são apenas alguns exemplos, mas marcam o caminho seguido pelos demais setores. Os consumidores habituaram-se à experiência oferecida por estas plataformas e querem soluções à medida das suas necessidades específicas. O setor de seguros não escapa a esta tendência. 51% dos consumidores demanda um seguro baseado no uso (UBI), a maior expressão da hiperpersonalização, segundo relatório da Capgemini (1).
Graças à tecnologia, hoje é possível conhecer os comportamentos individuais dos consumidores ou até mesmo dados em tempo real fornecidos por um dispositivo conectado. De acordo com a pesquisa da Accenture (2), 69% dos consumidores partilhariam dados significativos sobre a sua saúde, exercícios e hábitos em troca de preços mais baixos das seguradoras, 19% a mais do que há apenas dois anos.
Por exemplo, a consultora aponta que a pandemia e o confinamento geraram interesse no seguro de automóveis baseado no uso. 29% dos consumidores esperam conduzir menos do que antes da pandemia e, por isso, desejam produtos e tarifas que reflitam os seus novos hábitos. Também existe espaço para o seguro ‘pago conforme conduzo’, que beneficia os bons condutores. Se os segurados precisarem fornecer informação sobre os seus hábitos para aceder aos benefícios, demonstram estar disponíveis para isso.
O mesmo ocorre noutras linhas de negócio. Algumas entidades de Vida e Saúde estão a explorar as possibilidades que os wearables oferecem para recompensar os utilizadores pelos seus hábitos saudáveis. Existem também seguradoras focadas em seguros habitação que oferecem descontos para a instalação de dispositivos conectados – sensores de fumo ou inundações, vídeo porteiros … -. No entanto, pouco progresso foi feito no sentido de uma personalização real da tarifa ou do produto com base nestes dados.
Embora a personalização seja a principal alavanca, os utilizadores também exigem customização de cobertura. Por exemplo, a Deloitte (3) destaca que os jovens demonstram interesse por apólices que cubram todos os tipos de transporte, ao invés de seguro vinculado a um único veículo. Essa demanda responde à realidade da nova mobilidade urbana, em que coexistem carsharing, plataformas VTC, empréstimos de scooters elétricos, etc.
Algo semelhante acontece no ramo Vida, onde pode já não ser suficiente garantir a indemnização em caso de sinistro. As entidades podem ter acesso a um público mais amplo com seguros personalizados, adaptados às suas necessidades – que variam ao longo da vida – e com coberturas que podem ser utilizadas ao longo da vigência da apólice.
Em qualquer caso, a personalização pode transcender a visão tradicional do Seguro, estruturada em linhas com produtos ‘estanques’. A personalização faz sentido principalmente se o Seguro é capaz de criar soluções flexíveis e ajustadas às necessidades de cada cliente, saindo da caixa do produto convencional. Muitos consumidores não querem adquirir um seguro para a habitação, outro para o carro, outro para a scooter, outro para o telemóvel, etc. Só querem estar seguros. O futuro pode passar por políticas modulares, nas quais cada cliente pode adicionar ou remover gradualmente coberturas de acordo com suas necessidades, podendo até ativá-las ou desativá-las ao longo do tempo.
O objetivo é que o seguro esteja disponível quando o cliente necessita, que responda às suas necessidades específicas e, claro, com um preço personalizado e ajustado ao risco.
Referências:
(1) ‘World Insurance Report 2020’. Capgemini
(2) ‘Insurance Consumer Study’. Accenture
(3) ‘2021 insurance outlook’. Deloitte
Artigo em colaboração com a Inese (WILMINGTON INESE S.L.U.). Com a colaboração de: